Uma conversa com um grande PGA profissional gaúcho, que nos conta do drama que vive no hospital.

ENTREVISTA GILBERTO DOS SANTOS

20 de septiembre, 2023

UMA CONVERSA COM UM GRANDE PGA PROFISSIONAL GAÚCHO, QUE NOS CONTA DO DRAMA QUE VIVE NO HOSPITAL

Gilberto dos Santos (carinhosamente o Beto Furão), decidiu ser profissional em 1975 e se filiou a ABPG/PGA do Brasil desde então.  Em 1976 foi contratado pelo Porto Alegre Country Clube, clube que passou a fazer parte de sua vida desde então. Gilberto após completar 73 anos, continua na mesma cidade e mantem vínculo trabalhista com o mesmo clube, Porto Alegre Country Club como profissional e professor de golfe. São quase 5 décadas ensinando  o golfe para mais de 10 mil alunos de diversas gerações. Nos sentamos para conversar sobre sua carreira e jornada na indústria do golfe de quase meio século.

PGA — Gilberto, você poderia nos dizer quantos anos você trabalha para o golfe e para o clube onde você trabalha?

GILBERTO — Na verdade, trabalhando para o golfe são mais de 60 anos, sendo destes, 47 anos como profissional de golfe do Porto Alegre Country Club e 14 anos como Caddie no mesmo clube.

PGA — Como é um dia típico no seu trabalho?

GILBERTO — Naturalmente tenho um movimento de trabalho bastante reduzido e minhas responsabilidades se resumem em cuidar de setores de operações do golfe, handicaps, organizar torneios e o setor de instrução ministrando aulas de golfe para os sócios do clube.

PGA — O que o inspirou a tornar-se um Profissional de Golfe e ensinar golfe?

GILBERTO — Bom, eu tive contato com varios grandes jogadores durante o período de Caddie do clube.  Também teve meu tio Ivo dos Santos ex-caddie que foi profissional e começou mais cedo do que eu.  Acho que a somatória de todos esses eventos, e a paixão pelo esporte foram meus inspiradores e me estimularam a me fazer profissional de golfe.  

PGA — Onde você concluiu sua certificação? Como essas experiências prepararam você para trabalhar com o golfe?

GILBERTO — Como todos devem saber as informações são um poco limitadas e as revistas eram um único caminho para a informação na época, mas, os conhecimentos técnicos e práticos e as direções de como aplicá-los eu tive através das reuniões e escolas da PGA do Brasil.

PGA — Qual foi a sua experiência favorita como PGA Professional de Golfe?

GILBERTO — Ver meus alunos crescerem e aparecerem no circuito estadual e nacional!

PGA — Qual é o pior e o melhor período da temporada de golfe no sul?

GILBERTO — O melhor período sempre é o verão apesar das chuvas. As aulas fluem naturalmente, o dia é mais longo e a temperatura ajuda a não se indispor.  O período mais crítico é o inverno, muito frio, também tem muita chuva, que é o que realmente incomoda e muitas vezes não te permite fazer nada.

PGA — O que você fez para se tornar um profissional altamente conceituado e respeitado?

GILBERTO —   Isso é bastante contraditório. Eu recebi o respeito e reconhecimento dos meus pares, dos meus amigos, dos meus alunos, mas infelizmente nunca dos meus empregadores. Mas a dedicação e o amor que dispensei ao trabalho foi o principal fator que me fez ser respeitado e admirado por meus pares, alunos e amigos.  

PGA — Os profissionais em geral falam que você é um dos que mais possui bagagem de conhecimento na indústria do golfe. Como seria isso?

GILBERTO — Tenho grandes amigos no meio profissional, eu agradeço muito o reconhecimento e as palavras de todos eles. Eu sempre fui muito curioso e tentei aprender de todas as formas mesmo não tendo a tecnologia ou a facilidade de viajar aos Estados Unidos. Eu procurei incrementar meu vocabulário e meus conhecimento no esporte através dos vídeos, das revistas e assistindo os campeonatos na TV a cabo. Mas o verdadeiro conhecimento e valor eu adquiri através dos cursos da PGA do Brasil. Entidade que me acolheu, me apoiou e ajudou no desenvolvimento profissional e minha carreira. Você não pode ser um profissional se não estiver registrado no PGA do país.  

PGA — Como é a relação entre o profissional de golfe e o clube de golfe na região?

GILBERTO — Olha, é bem complicado comentar sobre isso. Os clubes do Brasil em geral possuem diferentes políticas e tratamentos diferenciados para com os profissionais. Alguns fazem de tudo para ver sues profissionais crescerem e alcançar o lugar mais alto, enquanto outros, não dão a mínima e se puderem, até prejudicam seus profissionais. No Rio Grande do Sul não é diferente, principalmente em Porto Alegre onde a discriminação e muito forte, o preconceito racial e social ultrapassa as limítrofes do entendimento.   

PGA — Será que você poderia nos dizer se existe uma relação técnica esportiva e laços de amizade e parceria em prol do golfe entre a PGA e a Federação do RS?

GILBERTO — Não existe! Hoje em dia, os dirigentes somam em números de oportunistas e aproveitadores que buscam uma colocação no clube para praticar ações que visam beneficiar a si próprios . Não são nem pensam em trabalhar para o golfe, para o crescimento e desenvolvimento do golfe, apenas para seus próprios interesses. Eles até cometem o absurdo de registrar profissionais mesmo sabendo que a PGA dos profissionais existe no país. Mesmo sabendo que lá fora, no mundo exterior ninguém vai reconhecer essa identificação ou licença. Uma vergonha!  

PGA — Na sua opinião, o clube existe por causa da federação ou a federação existe por causa do clube?

GILBERTO — Sem dúvida, a Federação existe por causa do clube! Infelizmente nem todos os clubes veem dessa forma, os tratados e acordos para manter a elite no esporte e um sistema que está com os dias contados. O golfe é um esporte Olímpico e não mais um esporte de quatro paredes. 

PGA — Existe ou existiu uma relação de parceria e amizade entre a Federação de Amadores e a PGA do Brasil ou cada uma puxa para um lado tentando fazer esforços individuais em detrimento do crescimento do golfe?

GILBERTO — Já existiu! Para a infelicidade do golfe como esporte, não existe mais!  E não é porque a PGA não é flexível, muito pelo contrário são os amadores dirigentes que pensam que podem comandar os profissionais, quando na verdade deveria ser o inverso.  Outra situação, que espero em breve possa mudar!

PGA — Ouvimos falar que você está passando por alguns problemas no clube onde trabalha.  Você gostaria de comentar sobre isso?

GILBERTO — Realmente é verdade! Algo difícil de acreditar por ser um clube rico em história e tradição, não é? Talvez por conta disso meus problemas de saúde se agravaram.  Algo que está me corroendo por dentro é o fato do clube não me dar o valor e respeito que eu dei a eles todos esses longos anos.  Foram quase 50 anos! Tenho a impressão de que eles estão esperando algo de ruim me aconteça para que tudo fique no esquecimento. Felizmente tem pessoas boas e ótimos profissionais que estão se dispondo a me ajudar antes que algo de ruim me aconteça. Não tenho muito tempo de vida, e tenho filhos pequenos e uma bebê de apenas 3 ano. Meus filhos e esposa, são meus alicerces e, por eles eu luto para me manter vivo.  Eu dediquei quase um século de minha ao clube e nenhum dos sócios antigos veio me visitar, só recebi a visita do atual presidente. Uma constatação clara da existência de discriminação, preconceito e racismo entre a grande maioria de dirigentes e sócios do Porto Alegre Country Club.  

PGA — Ouvimos falar que você foi quem empurrou um Profissional gaúcho, ex-presidente da PGA rumo ao sucesso. Você poderia nos contar sobre isso? 

GILBERTO — Você está falando do Tampinha? Sim! Era um Caddie que se destacava por ser muito inteligente e aprendeu e dominou o swing muito rápido. Tinha realmente talento não só como os tacos, mas academicamente também. Aqueles que o ajudaram devem olhar para trás e dar um sorriso de satisfação. Se torneou uma inspiração para mim também! Um exemplo para seguir por todos os caddies/pros do Sul e do Brasil. Eu não acho que ajudei, mas fui sincero quando falei para ele procurar o futuro longe do clube!    E useis essas palavras! “Tampinha, você tem potencial para ser um grande profissional, mas se você quer ser grande no golfe vai buscar teu futuro fora daqui”.    

PGA — Quais são seus planos para os próximos 5 anos?

GILBERTO — Eu espero viver 5 ou 10 anos, ou até mais se Deus me permitir. Quero criar e ver meu bebê crescer, levar ela para a escola como fiz com os outros, quero ver o clube corrigir os erros deles para comigo, mesmo que seja através de ações na justiça.  Quero viver o suficiente para aproveitar e agradecer o respeito, o carinho e a consideração dos amigos, e dos alunos e de minha esposa e filhos que nunca se afastaram.   

PGA — Qual é o melhor conselho que você daria aos novos candidatos a profissionais?

GILBERTO — Amar o trabalho e a profissão que escolheram. Atuem com o coração em todos os momentos mesmo que encontrem falsos e maus caráter no caminho. Lembre-se de que sempre haverá uma alma boa que te respeitará e te valorizará.  Seja um profissional de verdade e trabalhe para o golfe e não para dirigentes. Caso contrário, você não merece o título de profissional de golfe. Respeite as normas do teu trabalho, mas se valorize! Nunca esqueça de que somente a PGA congrega, forma e defende os profissionais no Brasil. Se o teu desejo e ser profissional, então comece por filiar-se a entidade dos profissionais do Brasil.  Não espere que tudo vai retornar como se fossem teus pais, especialmente se você foi um amador.  Não se esqueça que, somos nós os profissionais que formamos os golfistas. Isso dá uma mensagem bastante clara e objetiva da importância da entidade no golfe brasileiro e mundial.    

PGA — Essa foi a nossa conversa com um dos grandes profissionais brasileiros, mentor e ajudador de muitos amadores e profissionais em especial profissionais. Obrigado por sua atenção e tempo Sr. Gilberto dos Santos. Que Deus ilumine seu caminho e o mantenha muito mais tempo ajudando o golfe e junto de todos nós.  Que a recuperação venha rápido!

GILBERTO — Muito obrigado a todos vocês da PGA do Brasil! Uma oportunidade que nunca me esquecerei e que com certeza ficara guardada na memória de todos nós da família. Obrigado minha esposa e filhos. Amo vocês!

 

Mirco Espejo

Coordenador de Imprensa