Jogando o golfe profissionalmente

Por Luiz Martins, PGA Master Professional, Diretor de Operações na LM Golf School
Membro: PGA do Brasil, PGA of Canada, PGA Sul Americano

Quando falamos sobre os jogadores do circuito profissional todos têm em mente as grandes estrelas como Tiger, Rory, Jordan, Jason, Dustin, Cabrera, Franco, Garcia e companhia, transbordando de popularidade, fama e dinheiro. Às vezes não lembramos que há outra grande quantidade de profissionais jogadores que tentam a vida em circuitos de menor porte, que apenas cobrem as despesas, mesmo com participações passageiras nos grandes tours. Basicamente, as despesas anuais de um golfista profissional são diretamente proporcionais à quantidade de torneios que pode ou decide jogar, da mesma categoria, considerando o nível de alojamento e a permanência durante longos períodos fora de seu local de residência habitual.

Exceto para as grandes estrelas do circuito, um jogador intermediário do PGA pode gastar um mínimo de 80 mil dólares ao ano em viagens, alojamento, viagens, Caddies, taxas de inscrição e outras despesas. Essa mesma quantidade pode ser reduzida para 20 ou 25% se o circuito for na América Latina, onde o nível de prêmios é menor.

Qualquer jogador do Tour só precisa renovar seu cartão para ganhar mais do que suficiente para viver confortavelmente. Mas antes de ir jogar nos grandes circuitos é preciso vencer nas competições inferiores, onde o nível de prêmios em comparação com as despesas geradas é muito injusto mesmo para um bom jogador. Um bom exemplo são os torneios satélites na América Latina, América do Sul, Challenge Tour na Europa ou Korn Ferry Tour nos EUA.

Até que um jogador não ganhe um grande prêmio ou posições no ranking mundial, o nível de despesas excede a maioria das receitas. Com sorte, equipamento, tacos, bolas e roupas, são fornecidos por algumas das principais marcas, mas se não houver resultados bem-sucedidos o equilíbrio financeiro é claramente negativo. Então, como fazer com as despesas necessárias?
Tem jogadores que, por sua trajetória e talento conseguem com brevidade contratos com importantes patrocinadores que financiam os gastos no início de suas carreiras profissionais. Mas isso só acontece com alguns poucos jogadores de golfe que tem qualidade. Para ser jogador profissional de golfe é necessário o apoio financeiro, recursos ou desenvoltura, é por isso que os outros jogadores estão condenados para o que é tradicionalmente chamado de «procurar a vida», ou seja, que significa acesso ao financiamento ou ajuda que não são dos grandes patrocinadores.
Esse é o caso de muitos jogadores latino-americanos, que contam com um «padrinho» ou “empresário” para custear todas as despesas, embora eles tenham que devolver até 70% do que ganham em caso de conquistar um prêmio importante, uma forma de pagamento do valor que inicialmente recebeu como empréstimo. Além disso, como complemento de renda, fora de competição eles são obrigados a executar outras atividades geralmente ligadas ao golfe, como ministrar aulas ou clínicas de golfe, cuidar do clube ou de um campo de golfe.

Obviamente, o nível de renda também é diretamente proporcional aos êxitos e os resultados e estes por sua vez, dependem da estabilidade diante da pressão a que o jogador é submetido. O golfe é um esporte que depende de cerca de 20% de técnica e condição física e, 80%, de preparação mental.

É verdade que, quando os bons resultados aparecem tudo fica mais fácil, mas muitos grandes jogadores nunca chegam a alcançar bom desempenho, apesar de sua qualidade, consequência de jogar toda semana com a pressão e a responsabilidade de contabilizar investimento rentável e manter o apoio de terceiros. Semelhante ao que acontece em outros esportes, os resultados dos profissionais de golfe ditam o nível de seu sucesso. Infelizmente, há muitos jogadores que permanecem na estrada sem a oportunidade de provar o seu verdadeiro talento.

No Brasil temos excelentes talentos como Ronaldo Francisco, Rafael Barcellos, Pablo de la Rua, Marcos Silva, Felipe Navarro, Anderson Namur, Robson Gomes, Phillippe Gasnier, Hélio Casimiro, Cristian Palberg, Carlos Eduardo Ferreira, Odair Lima, Pedro Nagayama, Rodrigo Lee e muitos outros, sem me furtar de reconhecer os recém-formados na universidade que estão mais próximos de uma carreira profissional. Também, lembrar e somar na lista, aqueles grandes do passado dos quais eu me incluo junto com Acácio Pedro, Antônio Nascimento, Rafael Navarro, Priscillo Diniz (em memória), Mário Gonzalez, José Maria Gonzales Filho, Antônio Evangelista (em memória), Humberto Rocha, Joel Correia, Celino Cruz, Manuel Fernandes, Eduardo Caballero, Federico German, Henrique Fernandez, Luiz Carlos Pinto que inspiraram os talentos atuais.

Temos uma clara demonstração da necessidade cada vez mais presente de que os aficionados do golfe precisam apoiar, contribuir e dar condições e recursos necessários para que os jovens golfistas da atualidade demonstrem ao mundo que o Brasil também tem tradições e grandes talentos no golfe.

Temos muito bons exemplos de política voltada ao esporte em alguns países da América do Sul. Precisamos conscientizar primeiro nossos dirigentes, e também nossos governantes a fazerem o mesmo aqui no Brasil. Apoiar todos os esportes no território nacional como muitas outras políticas para proporcionar benefícios e estender o privilégio da pratica do golfe a toda população do país.

Empresas nacionais ou multinacionais têm um papel importante neste processo, considerando que o golfe é um esporte olímpico e deve ter a mesma vitrine que os outros esportes, para que nos próximos anos possamos ser laureados com a aparição e multiplicação de mais e mais golfistas.

Na Olimpíada passada, no Rio de Janeiro tivemos apenas a presença de três representantes – um jogador e duas jogadoras. A pergunta é: o que esperamos para as próximas Olimpíadas ou para os próximos anos? O que podemos ter certeza é que nossos jogadores jamais deixariam de prestigiar um evento tão grande como os Jogos Olímpicos. Muitas estrelas do golfe se negaram a vir dar esse prestígio ao nosso país. Em 2021 no Japão, só nos resta esperar e fazer torcida para que o nosso único representante até o momento Adilson Silva, ex-caddie, diga-se de passagem, e ver ele e todos esses profissionais fazendo seus melhores swings… na tela da nossa TV.

Na verdade, deveríamos copiar os americanos em tudo. Não somente na construção de um campo de golfe, mas no trato com o golfe e com os profissionais. Como tratar o profissional e o golfe profissional, é algo que deveria ser um exemplo em todas as entidades representativas do golfe. Por exemplo: Respeitar, apoiar em vez de criticar e tentar destruir o profissionalismo. Investir de verdade no esporte ao invés de explorar os profissionais. Os patrocinadores estão esperando os projetos de desenvolvimento para emprestar seus investimentos.

Eu poderia ir até mais longe, observar o respeito à entidade dos profissionais é primordial e se faz necessário. Quando a entidade resgatar a dignidade, o profissional terá mais valor, e então, estaremos todos falando de golfe. Sim, porque o golfe que praticamos no Brasil ainda é um esporte só para nobres onde o “rico” criou e alimenta o paradigma de que o golfe não pode ser privilégio de todos os brasileiros porque, se isso acontecer, perderá o “Glamour “.

Fica aqui minha sugestão para unir forças com o objetivo de fazer o golfe do Brasil crescer e aparecer e que para as competições internacionais possamos preparar nossos jogadores para que possam competir em igualdade e condições com os países do primeiro mundo. Façamos surgir o golfe como esporte e paremos de alimentá-lo como um hobby com a prerrogativa de não sair das quatro paredes, e começar a fazer um investimento sério no golfe juvenil e no golfe e profissional, as duas categorias mais importantes do golfe mundial. O Golfe é muito mais que isso! Fechar os olhos para essa realidade seria condenar ao marasmo ano após ano, todos nossos talentos e futuros campeões.

Eu sempre carreguei comigo desde minha infância o peso do orgulho de ter tido um irmão profissional e a ambição de provar que eu poderia ser tão bom quanto ele foi e fazer a diferença trabalhando para toda uma categoria. Meu sucesso, experiencia e profissionalismo é o resultado de muito esforço acumulado no dia a dia durante toda minha vida. Acho que cumpri muito bem esse papel.

O mundo inteiro nos mostra de alguma forma que temos de fazer mudanças para esperar e contemplar tempos melhores no futuro!
Para o nosso golfe nacional… O futuro ainda é agora!!!

São Paulo, 20 de janeiro de 2002.

 

 

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